LIBERDADE, AMOR E MÚSICA

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

A noite que ele quis voltar pra casa

A noite que ele quis voltar pra casa
*Originalmente escrito em 21 de Julho de 2010.

Era véspera de Ano novo. Não faz muito tempo...

O combinado era que nos encontraríamos  no centro da cidade. Ele, eu e mais um amigo nosso. Passaríamos a virada do ano na casa de um amigo de infância, música e bebedeira deles. Eu não conhecia o sujeito. Seríamos apresentados naquela noite. 

Eu fui a primeira a chegar ao local combinado. Louca pra fumar um cigarro. Eu estava há mais ou menos uma semana sem fumar, em mais uma das tentativas frustradas em largar a Nicotina. Não fumei. Afinal, logo ele chegaria e quando me beijasse, saberia que havia fumado e brigaria comigo. Eu não queria brigar, era véspera de ano novo e além disso, eu já brigava demais...

Sentei no banco do ponto de ônibus enquanto esperava que um dos dois aparecesse. E fiquei a observar uma metrópole em época de fim de ano: pessoas indo, pessoas voltando. Pessoas com muitas sacolas nas mãos. Algumas comprando o presente de última hora praquele amigo oculto que rola na confraternização do trabalho...

O primeiro a chegar é nosso amigo. Chega já dizendo que está com fome. Mais a frente havia um churrasquinho de gato, daqueles mesmo que têm em cada esquina (pelo menos em Manaus!). Eu aproveito para filar um copo d'água, já que eu não tinha fome, e sim sede. Voltamos para o ponto de ônibus que era o local combinado. Meu amigo acende um cigarro.

- Ah, eu queria fumar! Digo.
Ele responde:
- Sai daí, tu não podes!

Sorrimos um pro outro.

Ele estava atrasado. Isso era ruim. Ele nunca se atrasava! Odiava se atrasar porque odiava fazer alguém esperar e odiava mais ainda quando alguém o fazia esperar. Eu gostava disso nele. Sabia que ele não se atrasaria quando marcávamos um encontro. Já eu, volta e meia o deixava esperando. Não de propósito, mas é que eu nunca tive muita noção de tempo mesmo...

Já eram quase 6 da tarde e tínhamos combinado às 5. Eu achei meio cedo, mas concordei. Não tinha muito pra conversar com nosso amigo. Só queria que ele chegasse logo para que pudéssemos seguir o nosso rumo. Levanto a cabeça e entre aquele monte de gente com sacolas nas mãos, eu o vejo. Ele vem andando apressado. De certo chateado porque se atrasou.

- O ônibus demorou. Disse ele. E me beija.

Os dois amigos se cumprimentam e então podemos seguir rumo à casa do sujeito. Ele segura minha mãe e já me puxa dizendo que podíamos pegar aquele ônibus. Eu nem vi o número, o importante é que nos levaria ao nosso destino. Eu vou calada durante a ida, enquanto os dois amigos conversam aos montes. Ele sentado ao meu lado, minha mão repousa sobre sua coxa e nosso amigo sentado a nossa frente, com o corpo virado pra trás.

Já estava escurecendo. Pela janela eu olhava a rua, as pessoas e as luzes. Nunca fui fã de Natal, mas adoro as luzes.
- O centro está lindo, iluminado. Digo baixinho. Nenhum dos dois me ouve.

Por um lado é bom saber que mais um ano se passa. Depois então você se toca que está envelhecendo. Mas eu não me importava com isso naquele momento. Eu estava feliz.

A casa do sujeito não era muito longe do centro, logo chegamos lá. Havia gente conhecida. Quer dizer, era um casal de conhecidos. - Menos mau! Pensei. Ela estava grávida, acho que com uns sete meses. Nem perguntei. Sou apresentada do dono da casa:

- Essa é a minha namorada. Adorava quando ele dizia isso: "Minha namorada".
- Prazer!
O dono da casa também me apresenta a sua.
- Prazer!
 Eu a achei muito bonita: cabelos muito longos, pretos e brilhantes...

 No meio da sala havia uma mesa improvisada de dominó. As suplas vão se formando, eu jogo com um cara que também conheci na hora. Ele até que não jogava mau (eu sim!)... Acho que ganhamos umas duas partidas seguidas. Tem Vodka na mesa e toca alguma coisa que me soa totalmente desconhecida. O dono da casa conhece, claro! Todos bebem, menos eu. Não queria beber aquela noite...

Na cozinha o pessoal prepara a comida. As mulheres estão na mesa tomando cerveja e jogando baralho. Eu não sei por quê,  mas sempre gostei mesmo é de ficar no meio dos homens. Ouvir e rir das piadas. Rir de como eles competem tanto. De como se xingam. Fui à cozinha tirar umas fotos da mulherada. Ainda as tenho em casa.

- Ai! Saí barriguda! Tira outra! - Ordena a bonita namorada do dono da casa quanto mostro as fotos pra elas. Nós rimos e eu tiro outra. Desta vez ela encolhe a barriga.

Eu volto pra sala. Há muito papo, todos se conheciam há muito tempo e tinham boas histórias pra contar... Ele está bebendo com rapidez a Vodka. "Logo vai ficar bêbado e chato", pensei. Ele ficava um pé no saco quando bêbado. Petulante. Enchia o saco mesmo! Enchia mais ainda quando o alvo das suas provocações começava a se sentir incomodado. Comigo não. Ele se mostrava muito, senão até mais carinhoso. Falava calmo, baixinho, me contava segredos, ríamos das estórias que inventávamos... É, eu acho que ele me amou mesmo...

- Meu bem, vamos dormir aqui esta noite? Ele pergunta.
- O quê? Eu nem desejei feliz ano novo pra mamãe! Exclamei .
- Liga pra ela e deseja. Ele respondeu.
- Porra, você devia ter avisado antes!
- Eu achava que você sabia que íamos dormir aqui. Ele diz com os olhos de Vodka
- Vou la fora ligar. Digo saindo da casa em direção ao quintal.
- Tá bem. Ele responde.

Ele pede pra mandar um abraço e também deseja feliz ano novo pra ela. Minha mãe deseja o mesmo. Eram 8 da noite.

Desligo o telefone. Ele me beija e coloca a mão entre as minhas pernas, tocando bem onde sabia tocar. Ele olha pra trás, querendo saber se alguém viu, mas todos estão jogando, bebendo e conversando. Nós nos olhamos e sorrimos. 
- Vamos!
Ele me puxa pela mão e voltamos pra junto dos outros. Todos continuam se embebedando e eu sentada no sofá pensando em como queria fumar um cigarro...

- Ah! Foda-se! Vou fumar!
- Não! Ele me reprova.
- Me empresta teu isqueiro?!
- Claro que NÃO! - O tom de voz alterado.

Levanto e vou atrás de um isqueiro disponível. Pego o da namorada bonita. Volto ao quintal e fumo meio cigarro. Já me basta.

- A comida está pronta! Quem quiser pode se servir na cozinha! Diz o dono da casa.

Meu bem não quis comer, dizia que quando bebia não comia. - Tudo bem! Eu digo já com o garfo em punho. Ouço um barulho na sala. Alguém derrubou um prato. Eu estou feliz e sorrio de tudo aquilo, de estar ali e de ver todos bêbados e se divertindo, falando merda, de ser véspera de ano novo. Pensei em minha mãe, no meu irmão e em uma amiga que não via há tempos...

Depois de muita Vodka  ele vem e diz:
- Vamos pra casa?
- O quê? Agora?
- É, vamos dormir na nossa cama.
- Porra, você é mesmo foda! Eu digo exaltada. Mas a verdade é que eu não conseguia me negar a ele. - Então vamos logo, pra dar tempo de chegar antes da meia noite em casa!

Assim, nos despedimos. A casa do sujeito era longe da minha. E em véspera de ano novo os ônibus param às 23h. Motorista e cobrador também tem família né?!

- Acho que não vamos conseguir pegar o ônibus pra voltar. Já são quase onze horas. Eu digo.
- Vamos esperar, qualquer coisa voltamos.

Ironia do destino, ainda tinha ônibus rodando. Fomos calados durante a viagem. Apenas segurando a mão um do outro. Eram 23h30 quando chegamos em casa. Para nossa surpresa, minha mãe havia saído com meu padrasto e tivemos que pular o muro da frente.

- E agora, como vamos entrar?
- Vou tirar os pinos da porta! Ele responde.

Eu o ajudo pegando o martelo dentro da caixa de ferramentas que fica embaixo da pia da lavanderia. Ele começa a tirar os pinos. O barulho do martelo batendo no ferro da porta é muito alto, mas parece que ninguém ouve, ninguém liga.

- Se fosse ladrão, a casa já ia ser roubada! Digo em tom de piada. Ele me olha e sorri.
- Olha como estamos passando o ano novo. Diz de bom humor. Eu também sorrio.

Olho pro céu. Começo a ver os fogos de artifícios anunciando a meia noite! Já é outro ano. Ele deixa o martelo no chão, se levanta me abraça e diz:

- Feliz Ano novo!
- Feliz Ano novo!

Nos beijamos. Ele volta e tira o último pino faltante e enfim penetramos a casa.

- Vou deitar meu bem. Te amo! Me beija e vai pro quarto, pra nossa cama.

Eu ligo a TV. Passava Chicago. Eu me deito no sofá e assisto um bocado. Tinha Lasanha no forno. Eu fumo um outro cigarro escondida enquanto olho pela janela e derramo algumas lágrimas baixinho. Eu vou ao quarto vê-lo dormir. Escuto a sua respiração. Eu estava muito feliz...

R. Aimê






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