O ENCONTRO
Já faz algum tempo, porém ainda lembro com certa riqueza de detalhes a forma que nos conhecemos:
Eu estava atrasada. Naquela madrugada, eu tinha ficado acordada até às 4 da manhã, já que era início de período e o campus estava cheio de novidades, o que incluía alguns calouros que não eram de se jogar fora.
Já eram 8:30 e eu já devia estar pelo menos no corredor Norte, rumo à aula do professor Joseph, em História da Psicologia.
Eu estava vestida como uma típica universitária, usava o uniforme: Saia xadrez verde acima dos joelhos com as pernas à mostra, blusa de botões branca e sapatos pretos de saltos pequenos. No colo, carregava alguns livros, além de uma pequena mochila. O cabelo estava solto e sem maquiagem (o que era bem raro de acontecer).
Lembro-me de estar chegando às escadas quando ele me pediu informação sobre onde poderia encontrar o Bloco de Ciências Humanas e Literatura:
Ele estava com um pedaço de papel que tinha as informações de onde deveria se dirigir e quem procurar na mão esquerda. Na mão direita, uma pasta preta de couro com as iniciais R. B. bordadas em dourado. Estava todo de preto: palitó, blusa e sapatos. O cabelo estava penteado para trás com gel. Logo presumi que ele deveria ser um novo professor.
- Bom dia, você poderia me ajudar a encontrar este lugar? - Ele disse com sotaque carregado que o denunciava. Tirou os óculos escuros e aqueles olhos sorriram ao me olhar, eram verdes com um brilho que eu jamais havia visto em toda a vida.
René era um professor de Língua e Literatura Francesa nativo. Veio transferido para a Universidade.
- Claro! Você está perto, é só subrir as escadas e seguir o corredor da direita. - Eu apontava enquanto ele inclinava atentamente a cabeça na direção do corredor amontoado de estudantes e professores.
- Muito Obrigado. - Respondeu com um ar despreocupado.
- De rien. Respondi.
Ele sorriu.
- Você fala francês?
- Un peu. Soltei como quem quer se exibir. - Você é francês não é?
- Sim. A propósito, sou o René Bernard. - Disse enquanto segurava e beijava minha mão e me olhava fixamente nos olhos.
- Preciso ir. Disse após um pequeno sorriso bem malicioso. - Ele também sorriu e apenas acenou com a cabeça.
Virei as costas e comecei a subir as escadas. Tive a impressão de que estava sendo seguida com o olhar... Depois de alguns passos, olhei para trás. Minhas suspeitas se confirmavam: ele continuava no mesmo local, ao pé das escadas como se estivesse esperando até me perder de vista ou apenas dando uma boa olhada nas minhas pernas, já que a posição que eu me encontrava agora, dava uma vista bem melhor.
Não disfarçou ou desviou o olhar, apenas continuou me olhando...
Naquele instante, eu percebi que as coisas não seriam as mesmas...