LIBERDADE, AMOR E MÚSICA

terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

SIMPLES ACORDES

Era fim de tarde e ela, ao mesmo tempo em que dedilhava as macias cordas de seu violão, cantava. Uma canção simples, que falava de amor, que traduzia em melodias seu sentimento naquele instante. E nada a fazia perder a concentração. Estava simplesmente viajando em seu pequeno mundo de pensamentos, de devaneios, de anseios. Sentada à beira de uma escrivaninha bem ao lado de sua cama, cantava e cantava. Não esboçava nenhum sorriso. E, de olhos fechados, deixava a música envolver todo o seu ser. As janelas abertas permitiam ouvir um som majestoso que se juntara aos acordes do violão. Era uma fina chuva que caía lá fora. Após longos momentos em êxtase, caminhou até a janela e concentrou-se na bela paisagem que a natureza proporcionou. A chuva, agora mais intensa, molhava as coloridas flores que enfeitavam seu lindo jardim. Ela olhava penetrantemente cada gota e acompanhava o percurso da chuva desde o momento em que tocava as flores, as folhas até o momento em que caía sob a grama encharcada por tantas gotas d’água. E ouvia o som, o som da chuva, da água caindo, dos pássaros que àquela hora, quase noite, tentavam se recolher. Tudo era música. Todos aqueles sons se transformaram em uma verdadeira orquestra, regida por uma expectadora apaixonada que contemplava toda aquela maravilha e pensava. Pensava em tudo, no amor, na vida, nos momentos, nas oportunidades e no quanto era grata por tudo aquilo. E como se todo aquele tempo tivesse passado em poucos segundos, percebeu que já era noite. A chuva havia passado, porém, deixou um vento frio que a fez deliciar-se com uma quente taça de vinho. O violão, ali no canto, fora seu companheiro durante toda a noite. Escreveu versos, rabiscou poemas que ao longo da madrugada transformaram-se em lindas canções interpretadas por ela mesma. A cada gole, um novo pensamento, um novo verso. E tudo se transformava em música. A inspiração? Vinha de dentro, de um forte e inexplicável desejo de traduzir seus mais íntimos sentimentos. Traduziu... Traduziu através das coisas simples e percebeu que todo momento é o momento de ser feliz. A música era seu maior alívio, seu consolo, era sua companheira em momentos de crise, era sua imensa alegria e mais pura felicidade. Ela viveu todos aqueles momentos, sentiu a música a cada instante e fora feliz mais uma vez.

[Nely Vital]


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